sábado, 26 de junho de 2010

CULTURA

NASCIDOS PARA BRILHAR
Ricardo Rigel

Eles precisam ser completos. Distantes das badalações e burburinhos da grande mídia e mais próximos da realidade de jovens estudantes, esses personagens foram de encontro ao sonho de muitas pessoas que almejam virar estrelas de novelas e optaram por um caminho difícil, mas recompensador. Mas quem são essas pessoas? Que tipo de arte elas fazem? Para revelar quem são as novas “feras” dos musicais teatrais o R2 desvendou nas coxias da cena carioca alguns nomes que prometem boas surpresas em espetáculos do gênero. Entre eles estão a baiana Renata Celidonio, o jovem niteroiense Elton Towersey, a atriz gonçalense Thati Lopes e o ator e cantor Pedro Henrique Lopes.

Ele canta, dança e produz
Estudante de Artes Cênicas da UNIRIO, Pedro Henrique Lopes, de apenas 24 anos, é um obstinado. Autor do espetáculo musical O meu sangue ferve por você, do qual também participa, o jovem também canta e atua. Mas quem pensa que ele é marinheiro de primeira viagem se engana.

“Eu era um pirralho, tinha 12 anos e gostava muito de escrever, então criei uma história em quadrinhos chamada Ser ou não ser? Dois anos depois, chamei meu irmão e mais três amigas e transformamos o quadrinho no musical infantil de mesmo nome. Nessa brincadeira, acabamos nos inscrevendo em um festival de teatro de Niterói e São Gonçalo. Ganhamos o terceiro lugar. O legal é que hoje, 10 anos depois, voltei a fazer coisas de minha autoria, cuidando da produção e de tudo mais. A diferença é que agora eu já tenho mais ideia sobre produção e um senso artístico mais apurado”, relembra o ator.

Pedro conta que depois desta experiência começou a fazer aulas focadas para musical.

“Fazia uma oficina com o Berry, coreógrafo da TV Globo na época, que me deu base para aprender na prática”, lembra.

Foi em 2005, entretanto, que o ator ganhou o mundo, quando trabalhou como performer nos Parques da Walt Disney, em Orlando. No ano seguinte, participou da montagem comemorativa de 50 anos do musical Guys and Dolls, de Frank Loesser, também em Orlando. Atuou, ainda, no ano passado, no espetáculo musical da Broadway Esta é a nossa canção, de Neil Simon, Marvin Hamlish e Carole Bayer Sager.

“No teatro musical, sou fã do Steve Balsamo, que viveu Jesus na versão inglesa do musical Jesus Cristo Superstar. É quase uma meta de vida”, revela o ator que está em cartaz no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, terças e quartas, às 20 horas.

Multitalentoso

Ele é ator, cantor, dançarino, toca violino, pandeiro e piano. Mas o que mais surpreende não é a quantidade de habilidades deste ator e sim sua idade. Com apenas 15 anos, Elton Towersey pode se considerar um ator experiente, em cartaz com o espetáculo Gypsy, no Teatro Villa Lobos, em Copacabana.

“Sempre gostei de musicais. Desde muito novo, assistia incansavelmente aos filmes da Disney, na época em VHS, até poder conhecê-los ao vivo e em cores. Atualmente, tenho uma grande coleção de gravações de musicais”, revela.

Há seis anos, o ator participou do Coral Agnes Moço, tendo atuado várias vezes como solista (sopranino). Estudou canto com a professora Maria Eunice Moço, e, atualmente, estuda canto com a professora Gisela Peçanha.

“Aos oito anos fiz a minha estreia como ator interpretando o personagem Frei Lourenço, da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. Não parei mais, e hoje, aos 15 anos, já conto mais de cem apresentações em diversos teatros”, contabiliza.

Uma das figuras mais marcantes em sua vida é o ator e dançarino Fred Astaire.

“Na verdade, foram tantos outros que não há como enumerá-los: bailarinos, sapateadores, cantores líricos, atores. A minha porta para este mundo sempre foi o vídeo, e atualmente, a internet. Tenho ido ao teatro sempre que possível, mas o meu trabalho deixa pouco tempo livre. É uma correria deliciosa ”, revela.

Paixão veio cedo

Outra que desde cedo já sabia bem o que queria é a atriz e cantora Thati Lopes, de 23 anos, atualmente no elenco do musical Por uma Noite, um sonho nos bastidores da Broadway, que está em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea. A atriz ingressou no teatro com apenas 10 anos de idade e, logo depois, começou a cantar no coral da igreja e da escola. Aos 13 anos, ganhou um prêmio de melhor atriz em um festival de esquetes, em Niterói, e não parou mais.

“Tive que dar uma diminuída algumas vezes por conta dos estudos e para trabalhar. Hoje, vivendo de teatro, lembro como é dificil, quantas vezes já paguei para trabalhar. Mas não desisti e, sempre que dava, procurava cursos e testes pra fazer”, conta.

Mesmo estudando a história do teatro e lendo clássicos de grandes autores, a atriz não esconde que suas influências artísticas estão em sua maioria na TV.

“Minhas influências estão todas ligadas à TV brasileira. Desde que escolhi esta profissão, a TV foi minha escola, uma espécie de telecurso 24 horas (risos)”, brinca Thati, que preza pela autenticidade.

Sobre a possibilidade de ter sua carreira limitada aos musicais ela é direta.

“Não tenho medo, ator de musical é o artista mais completo. Há um leque de opções caso queira fazer outra coisa, e se estiver ganhando bem, com um bom e bonito espetáculo, estou feliz pra sempre”, defende a atriz, que além de se apresentar no teatro faz testes para a TV e já atuou nos capítulos finais da novela Promessas de Amor, da Rede Record. “Amo novelas, seria ótimo participar de uma trama inteira”.

Questionada sobre a possibilidade de participar de um musical da Broadway, a atriz é realista e defende as produções nacionais.

“Sei que, para muitos, atuar em um musical da Broadway é um grande sonho, mas digo isto com toda sinceridade. Os musicais brasileiros são tão bons quanto os da Broadway. Está ótimo pra mim. Estou superfeliz no Por uma Noite”, opina a atriz que coincidentemente atua em um musical que fala sobre os bastidores da Broadway.

No olho do furacão

Experiência e vocação é uma das qualidades primordiais para um artista de musical. Quem comprova essa ideia é a baiana Renata Celidonio, de 32 anos, que cursou Artes Cênicas – Interpretação Teatral, na Universidade Federal da Bahia. Em seu primeiro musical, A Casa de Eros, a atriz contracenou com atores iniciantes que atualmente despontam como grandes nomes da TV, entre eles Wagner Moura e Vladimir Brichta.

“Atuar e cantar sempre foram uma grande paixão. Desde criança e ainda adolescente, no colégio, eu fazia teatro, cantava em corais e sempre dava um jeito de apresentar os trabalhos escolares criando mini-espetáculos em que eu pudesse fazer as duas coisas. Era pura intuição, pois naquela época eu ainda não tinha a menor noção do que eram os grandes musicais. Hoje, já ciente de tudo, percebo o quanto sou apaixonada pela possibilidade de fazer isso”, conta a atriz, que no come ço da carreira chegou a fazer quatro peças diferentes em um único dia.

O espetáculo que mudou sua vida foi Playback!

“Por ele fui indicada ao Prêmio Copene de Teatro (Melhor Atriz) e vim para o Rio de Janeiro, onde - logo em seguida - fui convidada a fazer parte do elenco do Mamãe não pode saber, dirigido pelo João Falcão”, recorda.

Um dos espetáculos interpretados por Renata foi a Ópera do Malandro, de Chico Buarque, com direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho.

“Eu interpretava a “Dorinha Tubão”, uma “prostituta-administradora” de bordéis. Precisei de muitas aulas de canto para aprender o tal do “canto belting” (técnica usada em musicais da Broadway)”, pontua.

Perguntar para a atriz se é um sonho atuar em um espetáculo da Broadway é como perguntar para o macaco se ele quer banana.

“Quando fui à Nova York, saí do aeroporto e fui direto à Times Square. Eu estava no centro de tudo o que sempre quis viver”, recorda Renata, supervisora cênica de O meu sangue ferve por você.