quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MUNDO

Brasil e União Europeia se unem por uma
nova segurança internacional
Ricardo Rigel
A ambição brasileira de conquistar um papel de destaque nas discussões sobre defesa e segurança no mundo ficou bem clara no primeiro dia da VI Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana. Considerado o mais importante fórum no continente de promoção do diálogo entre a Europa e a América do Sul sobre diversos temas da agenda internacional de segurança e de defesa do intercâmbio de experiências e da intensificação da cooperação birregional na área. Neste ano, o destaque é a presença de cônsules de vários países sul-americanos. A conferência entra como o último evento do calendário oficial do Ano França-Brasil, que se encerra neste próximo 15 de novembro.
O assessor especial da Presidência da República para Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, participou da abertura do encontro. E falou sobre a importância da cooperação do continente europeu, para que o país ganhe espaço nas discussões que envolvem políticas de segurança internacional.
“O Brasil quer subir um pouco acima das suas sandálias. Tem uma vocação universalista na política externa. Podemos assumir essa dimensão de tratar também dos grandes temas”, declarou o assessor.
O assessor da Presidência diagnosticou ainda o novo protagonismo da UE em defesa e segurança internacional, em contraponto a “um certo declínio” na influência dos Estados Unidos nesse campo. Ele acentuou a afinidade cada vez maior no diálogo entre América do Sul e Europa e esclareceu a posição brasileira nesse contexto: “A América do Sul não é um mercado de armas, mas é importante na coprodução de armas de defesa. Não há é a intenção de transformar uma zona de paz em zona de alta competitividade”.
Esta edição da Conferência de Segurança Internacional entrou no calendário do Ano França-Brasil, não por acaso. O diretor de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa da França, Michel Miraillet, não deixou dúvidas em relação ao movimento de afirmação da Europa como protagonista no debate mundial sobre cooperação na área de defesa e segurança e falou de como as relações com países como o Brasil extrapolam o campo dos interesses comerciais no campo das armas de defesa.
“A França tem orgulho hoje de estabelecer diálogo. Essa cooperação entre Europa e América do Sul não é mais uma escolha, mas uma necessidade”, disse Miraillet, que vê na França, na Espanha e em Portugal aliados do Brasil em sua luta por um lugar no Conselho de Segurança da ONU.

Divergência de opiniões

A conjuntura delicada em torno das relações entre países da América do Sul se tornou tema concorrido na mesa de discussão, com participação de um público formado por militares, acadêmicos, diplomatas, entre outras autoridades.
Durante o debate o cônsul da Venezuela, Edigar Gonzales Marin, questionou o excesso de diplomacia do Brasil em relação a construção de uma base militar dos EUA na Colômbia.
“Temos que pensar na possibilidade de futuros ataques, que nossas nações possam vir a enfrentar. O Brasil não pode se portar de maneira passiva diante dos fatos que ocorrem dentro de nosso continente” contestou o cônsul venezuelano.
Sobre a tensão atual na relação entre países como Venezuela, Colômbia e Equador, Marco Aurélio Garcia foi enfático: “O Brasil trabalha baseado em ações concretas e não em hipóteses, nós acreditamos na solução de conflitos militarizados pelo viés diplomático”, explicou o assessor da Presidência da República.
Na parte da tarde, houve debate ainda sobre uma agenda comum entre União Europeia e América do Sul, com participação de Adrian Hyde-Price, especialista inglês em segurança internacional, e José Bellina Acevedo, vice-ministro da Defesa do Peru.
Participaram da abertura do evento representantes da Fundação Konrad Adenauer, Peter Fisher-Bollin; da Universidade de Paris, Alfredo Valadão; Marcos Azambuja, do Cebri; Christian Burgsmüller, da União Europeia; e Clóvis Brigagão, da Universidade Cândido Mendes.